Sofrimento é a palavra freqüente vinda das bocas das pessoas que moram nas comunidades de Passagem de Areia, em Parnamirim e na Vila São José em MacaÃba. Depois de tanto pelejar pelo abastecimento de água em suas casas, os moradores vivem uma batalha diária, a de levar o mÃnimo de condições básicas para as suas casas.
A dona-de-casa Maria Cristina Soares sabe bem o que é conviver há mais de 17 anos com a falta de água constante em sua casa. “Eu e minha mãe nos revezamos para encher as bacias e garrafas de água durante a noite, que é o único horário que ela aparece aqui em casaâ€, conta a dona-de-casa.
Em sua casa, nem chuveiro existe mais. Por ser um problema tão freqüente, o banho é feito através de pequenas cuias e o alimento é preparado com a água acumulada em garrafas de refrigerante, já usadas. “É um sofrimento muito grande a gente não poder ter o mÃnimo de água dentro de casa. Minha mãe e eu não dormimos mais. Todo dia a nossa luta é essaâ€, desabafa.
Ironicamente, em sua conta de água referente ao mês de janeiro veio escrito em letras garrafais. “Parabéns! Não consta débito em suas contasâ€. Isso significa que a dona-de-casa paga suas contas em dia e não recebe o mÃnimo. “Tem gente aqui na rua que não paga mais a conta de água. Vai chegar um momento que ninguém mais vai pagar, isso porque a gente acredita sempre que um dia iremos ter água em nossas torneiras e podermos viver com condições normais de todo cidadão que cumpre com suas obrigaçõesâ€, diz Maria Conceição.
Sua vizinha Rosângela Menezes conta que muitas vezes chega a jogar roupas fora porque apodrecem. “É sempre uma angústia e um sofrimento. Já cansei de jogar roupas fora porque não tem mais condições nem de lavagem. E além do mais as louças ficam até o teto juntando moscas e insetos. A gente não agüenta mais viver nessa condição desumanaâ€, exclama.
Para Emanuel Barreto, gerente regional do litoral sul da Caern, o abastecimento melhorou muito de uns anos para cá. Em sua explicação, nesse perÃodo de verão o consumo aumenta e por isso se torna complicado manter todos os bairros abastecidos. “Todo verão é um problema para nós, por isso estamos buscando soluções. Nesse perÃodo o consumo é maior em 30%. Não é o ano inteiro não como a comunidade está dizendo, a gente tem consciência de que isso acontece apenas nesse perÃodo de verão.â€, explica Emanuel Barreto.
A solução da Caern está sendo a construção de um poço novo com a capacidade para 100 mil litros de água, que está sendo construÃdo no bairro da Cohabinal, em Parnamirim. “Acredito que daqui a 10 dias úteis o poço estará pronto. No carnaval, o problema da comunidade de Passagem de Areia estará solucionadoâ€, acredita.
E acrescenta: “Temos certeza disso, pois já fizemos um poço em Bela Vista e melhorou muito. Estamos super atentos tanto em Natal como no interior. E queremos que esse sofrimento da população termineâ€, conta.
Segundo a Caern, atualmente os bairros de Bom Pastor, Cidade Nova e Nova Parnamirim são os que mais sofrem com a falta d´gua.
À espera de um carro-pipa
Na Vila São José, em Parnamirim, não é diferente, os moradores precisam acordar de madrugada para conseguir encher uma pequena bacia de água.
Andrea Pereira, moradora recente do lugar está assustada. “Nunca vivi nada parecido em minha vida. Preciso pagar R$ 10 para o menino pegar água no posto. E mesmo assim a água vem cheia de lodoâ€, conta a dona-de-casa Andreia Pereira que mora em Vila São José há 7 meses.
Sua vizinha, a aposentada Francisca Dalila da Costa diz que convive com a falta de água da comunidade há mais de 4 anos. “Perdi as contas de quantas vezes pedimos água à Caern. Termina virando uma humilhação. Mesmo com a solicitação, a Caern demora mais de 20 dias para enviar um carro pipa. Faz tempo que a promessa de melhoria existe e até hoje nada. Eu, sinceramente, já perdi minhas esperançasâ€, desabafa.
Segundo ela, nos dias mais crÃticos, os vizinhos vão em mutirão em direção à pedreira para lavar roupa e lá precisam dividir o espaço com lixo e bicho morto. “Essa é a condição de vida que temos hojeâ€. Erivan Sousa Sá, chefe de serviço de manutenção e operação da Caern, explica que como a Vila São José é uma área muito alta em relação aos outros bairros e comunidades, o nÃvel do reservatório não tem força para chegar em todas as casas. “Já construÃmos um ‘dooster’, que é um reservatório para levar água para a vila e agora estamos contratando uma empresa para construir uma rede com 500 metros. O material já está no escritório de MacaÃba e daqui para sexta feira estaremos começando o serviço. Acreditamos que em uma semana estaremos resolvendo esse problemaâ€.
Fonte: Jornal Tribuna do Norte