Transposição do Rio São Francisco une bancada do Rio Grande do Norte

15/02/2008

Quando o assunto é transposição, os três senadores do Rio Grande do Norte falam uma só língua. Isso ficou evidente na audiência de ontem em que os três defenderam a implantação do projeto de levar água do São Francisco para perenizar rios secos da região semi-árida. Para o senador Garibaldi Filho (PMDB), presidente do Senado, a escassez de água no Nordeste não é um problema regional, mas de todo o país e, enquanto não for resolvida, o Brasil não pode se considerar um país justo. Em discurso, Garibaldi elogiou o presidente Lula por decidir-se a iniciar essa obra, já conduzida pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima.

Conforme lembrou Garibaldi, o Brasil contém 13,3% da água doce do planeta, mas 70% desses recursos estão concentrados na região amazônica, enquanto é ínfima a disponibilidade de água no Nordeste. Nessa região, disse ele, 70% das águas estão concentradas na bacia do Rio São Francisco, o que impõe enormes sacrifícios à população que a ela não tem acesso.

“Gerenciar essas águas, estabelecer uma distribuição mais justa, sempre foi um grande desafio para o governo brasileiro, que só agora dispõe de instrumentos adequados para fazer com que prevaleça um caráter justo para a distribuição dessas águas”, afirmou.

O presidente do Senado lembrou as inúmeras vezes que ocupou a tribuna para defender o fim da desigualdade nacional na distribuição de água. Também recordou que, na infância, como filho de agricultor, viu de perto esse drama, tendo envidado esforços, quando governou o Rio Grande do Norte, para resolvê-lo.

“Nós não estamos pedindo muito em nome de 12 milhões de habitantes nordestinos que sofrem com a falta d’água. Eu posso dar esse depoimento porque vi de perto essa situação. Como governador de estado, vi que era preciso dar um basta àquele sofrimento e, graças a Deus, pude fazer alguma coisa” declarou.

Já o senador José Agripino, líder do DEM, classificou o projeto como a única saída capaz de garantir o suprimento de água para irrigação nas regiões a serem beneficiadas. Agripino citou o caso da Barragem de Santa Cruz em seu estado, que seria beneficiária direta da transposição, dizendo que, nas condições atuais, na hipótese de ocorrência de uma seca de três anos, a barragem secaria, já que não tem uma fonte de alimentação permanente. “Os que são contra a transposição, são contra a única solução que o Nordeste tem para resolver seu problema.”

A senadora Rosalba Ciarlini disse que o desvio de 1,4% da água que chega ao reservatório de Sobradinho não fará falta à geração de energia elétrica no Nordeste e significará muito para as populações pobres e carentes do Rio Grande do Norte. “É muito pouco o que pedimos. É emblemático que o rio tenha justamente o nome do santo da Igreja Católica que representa a solidariedade cristã e sempre se destacou na defesa dos pobres. Água para quem precisa dela para sobreviver, ninguém pode ser contra isso”, concluiu.

Projeto beneficia 390 cidades

O Projeto de Integração do Rio São Francisco com as Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional é um empreendimento do governo federal destinado a assegurar oferta de água, em 2025, a cerca de 12 milhões de habitantes de cidades da região semi-árida dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. A integração do rio São Francisco às bacias dos rios temporários do semi-árido se dará com a retirada contínua de 26,4 metros cúbicos de água por segundo, o equivalente a 1,4% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho (1.850 metros cúbicos de água por segundo) no trecho do rio onde se dará a captação.

O governo pretende destinar este montante hídrico à população urbana de 390 municípios do agreste e do sertão dos quatro estados do Nordeste Setentrional. As bacias que receberão a água do Rio São Francisco são Brígida, Terra Nova, Pajeú, Moxotó e Bacias do Agreste, em Pernambuco; Jaguaribe e Metropolitanas, no Ceará; Apodi e Piranhas-Açu, no Rio Grande do Norte; Paraíba e Piranhas, na Paraíba.

O projeto prevê a construção de dois canais - o Eixo Norte, que levará água para os sertões de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte e percorrerá cerca de 400 km; e o Eixo Leste, que beneficiará parte do sertão e as regiões agrestes de Pernambuco e da Paraíba - e se desenvolverá por um caminhamento de 220 quilômetros. Os eixos de integração foram concebidos na forma de canais de terra, com seção trapezoidal, revestidos internamente por membrana plástica impermeável, com recobrimento de concreto, ainda de acordo com as informações do ministério.

Fonte: Jornal Tribuna do Norte

Voltar