Barragem Armando Ribeiro transborda e preocupa autoridades

07/04/2008
As chuvas que não param de castigar as cidades do Vale do Assu neste últimos dias podem trazer problemas ainda maiores devido ao aumento do nível da sangria da Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves, que até às 18h de sexta-feira (04), já transbordava com lâmina de água de 4 metros nos três sangradores.

A segunda maior sangria da história do açude já provoca preocupação constante dos técnicos e engenheiros do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), que está monitorando a vazão do lago em regime de plantão 24 horas por dia.

A explicação para tanta preocupação é simples. Segundo o secretário de Agricultura de Ipanguaçu, João Luiz Oliveira, todos os afluentes da barragem, tanto no Rio Grande do Norte como no Estado da Paraíba, estão transbordando com intensidade. No caso de acontecer qualquer chuva, o nível de sangria que já é muito alto, pode ultrapassar facilmente a cota atingida em 1985, quando transbordou com lâmina de 4,5 metros, deixando um rastro de destruição em todas as cidades.

Com a sangria de 4 metros registrada até o final da tarde da última sexta-feira, a ponte Felipe Guerra, na BR-304, que passa por cima do sobre o rio Piranhas/Açu, por poucos metros não teve a pista `lavada`. O técnico do Dnocs, Geraldo Margela, que monitora a barragem desde sua inauguração, em 1983, explicou o que acontece se a barragem atingir a cota máxima de sangria, ou seja, 5,2 metros de altura.

`Os três diques de fusíveis (uma parte da parede da barragem projetada para se romper e assim evitar que a barragem seja destruída) vão se quebrar um a um, liberando uma grande quantidade de água`, explica. E uma das possibilidades é a destruição da ponte e a inundação das cidades de Assu, Ipanguaçu, Alto do Rodrigues, Carnaubais, Porto do Mangue, Pendências e Macau.

Barragem foi construída em 1983

A Barragem Engenheiro Armando Ribeiro Gonçalves foi construída durante o governo do então presidente João Figueiredo, em 1983. Dois anos depois, transbordou com lâmina de sangria de 4,5 metros, acumulando 3,4 bilhões de metros cúbicos de água, um bilhão a mais de sua capacidade normal.

No ano seguinte, voltou a transbordar, mas com menos intensidade: 2,07 metros de altura. Entre 1987 e 2004, a maior sangria aconteceu em 1989, quando transbordou com 2,10 metros, mesma sangria de 2004. Este ano, em apenas 20 dias de chuvas, a barragem já sangra com mais de 4 metros. Os números da barragem impressionam. São 68 quilômetros de extensão, cobrindo de água uma área de 19,2 mil hectares. Banha os municípios de Itajá, São Rafael, Paraú e Jucurutu. A cidade de São Rafael, quando da construção da barragem, foi transferida para uma área mais alta.

Apesar de sua engenharia moderna, o desgaste da piçarra no paredão já é visível. Uma equipe de engenheiros do Dnocs esteve sexta-feira em Itajá. Tiraram medições e fizeram observações em locais do paredão. O departamento admite a necessidade de reparos na estrutura. Os engenheiros tranqüilizam a população da região.

Cheia destrói fazendas de camarão e banana

O lago formado pela água armanezada no açude abastece mais de 40 cidades do Rio Grande do Norte, inclusive Mossoró, através de sistema adutor. Pereniza o rio Piranhas/Açu entre Itajá e Macau, permitindo a prática da agricultura irrigada, criação de camarão em cativeiro e a salinidade ideal para produção de sal marinho.

Com a cheia ocasionada pela sangria de quatro metros, uma área de 2 mil hectares de banana, da multinacional Delmont Fresh, foi alagada. A empresa emprega cerca de 2,5 mil operários. Também alagou mais de 20 fazendas de produção de camarão e tilápias, em Pendências e Carnaubais.

Na região do Delta do Piranhas/Açu, entre Porto do Mangue, Macau e Pendências, destruiu grandes salinas. Entre Itajá e Macau, foi destruída também parte da RN-408, duas pontes pequenas, e a Estrada do Camarão, construída em 2005 pelo Estado entre Pendências e Porto do Mangue.

A Petrobras desativou a produção de dezenas de poços no leito do rio. As obras do gasoduto Serra do Mel/Alto do Rodrigues foram suspensas. A Termoaçu corre o risco de perder a estação coletora de água que construiu recentemente para abastecer a unidade nas margens do rio.

Com a cheia, o abastecimento de várias cidades foi suspenso e os mais de 10 mil empregos gerados na produção de banana, sal, camarão estão ameaçados. A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN) informa que o abastecimento será normalizado nos próximos dias. As empresas de camarão, banana e sal não opinaram ainda sobre a cheia.

Com informações do jornal De fato.
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